“Se diz a palo seco o cante sem guitarra; o cante sem; o cante; o cante sem mais nada; se diz a palo seco a esse cante despido: ao cante que se canta sob o silêncio a pino...”
O poema de João Cabral de Melo Neto A palo seco serviu de inspiração para que a Companhia de Flamenco Karina Leiro criasse um espetáculo homônimo. Em uma única apresentação, a inusitada união do canto, da dança e da música flamenca, oriunda da Espanha (onde o poeta pernambucano morou), com o cenário de um sertão pernambucano, pode ser conferida nesta terça-feira (15/11), às 19h, no Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu.
A Companhia de Flamenco começou no Recife em 2010, por iniciativa de Karina Leiro, produtora do espetáculo, no Instituto Cervantes. Em 2014, o grupo estreou Bailaora, que participou de vários festivais, entre eles o Festival Internacional de Dança do Recife e o Janeiro de Grandes Espetáculos, além da Mostra de Grupos, na Feira Flamenca 2016, em São Paulo. Nesse período, a companhia também colocou o Recife no mapa nacional do flamenco, trazendo alguns dos mestres do baile para ministrar cursos na cidade, como Yara Castro, Fabio Rodriguez, Carmen la Talegona, Gisele Domit e, mais recentemente, Sara Nieto.
A inspiração da Companhia de Flamenco Karina Leiro nas obras do poeta João Cabral de Melo Neto surgiu bem antes do espetáculo A palo seco. “Desde o último trabalho, Bailaora, até esse atual temos extraídos frutos das obras dele. Eu, particularmente, amo os poemas de João Cabral e a companhia também”, afirma a diretora da companhia, coreógrafa e professora de dança há 14 anos, Karina Leiro. "A ideia de trazer essa discussão baseada nos textos do poeta partiu da produtora Rose Hans, que já tinha dado a ideia de fazer o espetáculo anterior baseado no Bailaora e agora, seguindo essa mesma linha, propôs o espetáculo A palo seco”, explicou. "Decidimos fazer esse trabalho inspirado em sua obra porque temos uma identificação muito grande com a história de João Cabral de Melo Neto. Ele era pernambucano e morou um tempo na Europa, trazendo por meio de sua escrita uma ponte entre as duas culturas”, concluiu Karina.
Segundo trabalho da Companhia de Flamenco Karina Leiro, A palo seco traz sete cenas (O canto a palo seco; Rezas; Milho; Arrecifes; Aborto; Flor do Sertão e Lágrimas do Sertão), com duração de uma hora e meia no total, através do drama de sete mulheres e um homem na imensidão das terras sertanejas durante os anos 1930, uma das maiores secas registradas no semi-árido nordestino. “A temática é a relação familiar: brigas, amores, apegos e desapegos, sonhos e frustrações”, explica um dos diretores gerais do espetáculo, Emmanuel Matheus, que também assina o roteiro e a concepção cenográfica.
Na visão de Karina Leiro, A palo seco oferece ao público a oportunidade de vivenciar a arte flamenca num ambiente de hibridismo cultural em que o sul da Espanha e o sertão pernambucano dialogam em sonoridades e poesia. “Digo que tenho uma dupla nacionalidade, ou mesmo, tenho um trânsito entre os dois países, Espanha e Brasil, porque sou filha de espanhóis. Mas com todo respeito às tradições flamencas, temos buscado a nossa identidade como companhia de nordestinos que fazem flamenco, pensando na cultura local e como isso se comunica com a cultura e a técnica do flamenco”, define Karina.
No espetáculo, também serão apresentados seis palos, nome que se dá às subclassificações do flamenco: Martinete, o mais antigo, chamado "a palo seco", ou seja, sem o acompanhamento de violão; Seguiriya, um dos bailes mais profundos e emotivos; Sevillanas, ritmo contagioso, de origem folclórica; Soleá, considerado como o mais dinâmico e legítimo representante da instituição artística dos ciganos; Tientos, que se assemelha a um tango flamenco lento, considerado uma derivação mais pausada e meditada dos tangos; e Tanguillo, uma mescla dos tangos e da rumba, com um ritmo airoso e uma sensualidade inocente.
O elenco é composto por sete bailaores - nome que se dá aos bailarinos do flamenco, que assumem também personagens. Carcará, interpretado por Adriano Cabral; Mãe de Todas, por Karina Leiro; Rose Hans interpretando Carmem; Dani Albuquerque atuando como Rita; Fernanda Paulino com a personagem Rute; Flora por Rafaela Wanderley; e Juliana Fernandes interpretando Marta. O espetáculo é encenado com música ao vivo, tendo Mek Natividade no cajón e percussão, Lucas Almeida no violoncelo e guitarra flamenca e Diego Zarcon no cante. A direção musical é de Eduardo Bertussi, que também está à frente da guitarra flamenca.
ABERTURA
A mostra de dança dos alunos da Cia. de Flamenco Karina Leiro, Flamencura – que inclui os palos Tangos de Málaga, Farruca, Tangos de Granada, Sevillanas (uma delas com castanhola) e Alegrías – antecederá o espetáculo A palo seco. Os ingressos custam R$ 40 (estudante, professor e idoso pagam meia, R$ 20). Vendas e informações: Rose Hans (81 98611-2595).
Serviço:
Espetáculo Flamenco A Palo Seco
Terça, 15/11, no Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu, na Avenida Boa Viagem
Horário: 19h
Ingresso: R$ 40 (estudante, professore e idosos pagam meia, R$ 20)