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A vez do Festival de Circo do Brasil

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"Circo do Só Eu", do grupo Barracão Teatro. Foto: Divulgação

Em sua 12ª edição, o Festival de Circo do Brasil segue investindo em produções contemporâneas, porém mais minimalistas, facilitando sua circulação pela cidade

No imaginário coletivo, o circo ativa memórias afetivas que remetem, em geral, à sua expressão mais tradicional, do picadeiro de lona montado por trupes familiares. A arte, no entanto, se apresenta como um organismo vivo, em constante mutação, dialogando, portanto, com outras linguagens e expandindo a própria concepção do que é o circo. Em Pernambuco, o Festival de Circo do Brasil (FCB) se firmou como o grande catalisador e expoente dessa multiplicidade do fazer circense, ao privilegiar uma programação que promove essa interseção entre a tradição e o contemporâneo. Sua 12ª edição acontece entre 4 e 13 de novembro em teatros e bairros da capital pernambucana.

O conceito “portátil” dá a tônica do evento este ano. Segundo a produtora do festival, Danielle Hoover, vários fatores influenciaram a escolha temática, entre eles a crise financeira nacional. Dessa forma, ao contrário do que aconteceu em anos anteriores, quando uma estrutura era montada na área externa do Parque Dona Lindu, o festival optou por apresentações de caráter volante, para serem apresentados em bairros e comunidades do Recife. “Procuramos na essência itinerante do circo uma forma de preservar e amplificar nossas ações. A ideia é que essas apresentações remetam quase a um circo de bolso, que reforce noções de leveza, da dinâmica do ir e vir”, explica.

Essa adequação, no entanto, não implica mudança na curadoria, que continua voltada para produções contemporâneas e grupos com trabalho contínuo de pesquisa de linguagem. A diferença, dessa vez, é que, em vez de espetáculos com equipes grandiosas, o FCB investe no minimalismo. Dessa forma, os teatros de Santa Isabel, Apolo, Hermilo Borba Filho e Luiz Mendonça recebem apresentações de grupos da Finlândia, França, Itália e Brasil, como o Gran Teatro Dentro e Rufino Clown (ITA), Circo Zanni (BR), fundado pelo ator Domingos Montagner, Cie Sôlta (FRA), Artinerant’s (BR), entre outros.

Conceituar o que é circo contemporâneo é, de certa forma, cair numa armadilha. Mais do que encaixotar, a ideia remete à flexibilização das possibilidades. A partir do diálogo com outras linguagens, a arte circense ativa potências que apontam para um caminho sempre em construção e aperfeiçoamento. Mais do que uma negação da tradição, essa característica reflete o caráter aglutinador da linguagem.

“O panorama do circo no Brasil é de crescimento. Hoje, temos escolas importantes, como a Escola Nacional de Circo, no Rio, e em outros polos, como São Paulo, Salvador e Londrina, que fomentam a arte. Essa retomada tem contribuído para que o circo se aprimore e cumpra uma fundação que lhe é inerente: buscar sempre uma atualização de seus temas, da técnica. É um desenvolvimento da linguagem, com a formação de artistas ligados também a outras artes, é muito enriquecedor. Hoje, estamos em uma fase de transição, com artistas que não vieram de famílias circenses investindo na formação”, situa Ésio Magalhães, do Barracão Teatro, que apresenta no festival o espetáculo Circo do só eu.

FORMAÇÃO
Outra característica fundamental desta edição é o destaque para artistas brasileiros e o intercâmbio entre os países. Hoover explica que o Festival de Circo do Brasil está conectado com outros quatro importantes eventos similares no mundo, com bases em Helsinki (FIN), Montreal (CAN), Toulouse (FR) e Estocolmo (SWE). Todos os espetáculos que integram a grade têm ao menos um artista brasileiro em sua composição. “O ambiente dos festivais tem o poder de acrescentar o intercâmbio entre linguagens, com vivências, cores diferentes. Não é intercâmbio propriamente técnico, e, sim, artístico e cultural”, reforça.

Com o projeto Circus Incubator, em parceria com a La Granieri (FRA) e a União Europeia, o festival espera também contribuir com o fomento do circo contemporâneo em Pernambuco. Do estado, selecionaram três artistas para participarem de trocas de experiências em solo internacional: Euler Kalebe, que esteve na Finlândia e Canadá, e João Lucas Cavalcanti e Vitor Lima, que vão à Suécia em fevereiro.

“No Recife, não tem nenhuma instituição profissionalizante que dê base realmente técnica para trabalhar com o circo. Então, a gente tem tentado assumir o compromisso de aperfeiçoar nossa técnica. Aqui ainda tem uma perspectiva mais tradicional e nós queremos nos adentrar mais na lógica do circo contemporâneo. Por minha formação no teatro e em dança, busco mesclar isso no meu trabalho para construir novas possibilidades como artista”, explica Vitor Lima, que atualmente se aperfeiçoa, junto a João Lucas Cavalcanti, na Escola de Circo de Londrina. 

Para Danielle Hoover, possibilitar a apresentação de trabalhos que ampliam a percepção do que é a arte circense é uma contribuição não só para a área, mas também para outras linguagens.“Antes de tudo, estamos falando de arte, e creio que o festival tem conseguido imprimir essa ideia. Temos conseguido extrapolar barreiras, atingindo artistas de dança, teatro, música, que, tocados pelas possibilidades demonstradas nos espetáculos, passam a refletir sobre seus próprios fazeres. Pernambuco não é um polo circense, mas temos conseguido esse envolvimento com as outras artes, que o circo contemporâneo possibilita”, acredita.

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