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Festival de teatro em nova edição

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Galpão traz ao festival o espetáculo "Nós". Foto Guto Muniz/Divulgação

Fazer teatro (arte como um todo) no Brasil é um trabalho hercúleo. Montar um espetáculo, mantê-lo em temporada e circular com ele é uma dificuldade real para os artistas e, assim, muitas obras ficam restritas aos seus estados ou regiões de origem. Nesse sentido, os festivais cumprem um papel fundamental de apresentar recortes da produção nacional e promover o intercâmbio entre grupos de diferentes localidades. Na capital pernambucana, o Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN) cumpriu esse papel por mais de 15 edições, sofrendo, no entanto, forte baque com a falta de políticas culturais efetivas nos últimos anos.

Como resultado, o FRTN, capitaneado pela Prefeitura, através da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife, não foi realizado em 2014 com a proposta de virar uma ação bienal, o que revoltou a classe artística. Em resposta ao descompromisso do poder público, o engajamento dos artistas e da sociedade civil forçou um olhar mais atento ao evento, ainda que o retorno da maratona cênica, em 2015, tenha sido marcado pela falta de proposta curatorial, basicamente reciclando peças locais na programação. Ficou a impressão de que os efeitos do esvaziamento do festival e a desarticulação causada pela manobra política ainda demorarão anos para serem contornados.

No entanto, segundo Romildo Moreira, gerente de Artes Cênicas da Prefeitura do Recife, a ideia é que, este ano, o FRTN, que acontece de 19 a 27 de novembro em vários teatros da capital, retome seu caráter inicial, com foco em grupos com pesquisa de linguagem. "Queremos trazer espetáculos que dificilmente viriam se não fosse através do festival. É custoso para grupos de fora se apresentarem aqui apenas com a bilheteria, sem apoio de editais ou instituições, e o festival cumpre essa função. São trabalhos sem apelo comercial, mas de alta qualidade artística, diretriz que foi definida junto à classe na escuta pública durante o 3º Encontro de Artes Cênicas, realizado em março”, aponta o gestor.

ENGAJADOS
Dentro da proposta de trazer grupos cujos trabalhos refletem uma preocupação com o desenvolvimento de um projeto artístico, duas companhias que estiveram em edições passadas, inclusive a primeira, em 1997, retornam este ano: o Grupo Galpão (MG), com Nós, sua 23ª montagem, e a Cia. do Latão (SP), com O pão e a pedra. Obras de caráter político, que discutem o momento pelo qual o país passa, esses trabalhos refletem também o intuito dos criadores em utilizar o teatro como ferramenta de transformação, uma trincheira contra a barbárie.

“O momento político está afetando a circulação de espetáculos. Vivemos uma fase crítica na cultura por conta da visão neoliberal que está sendo implementada e só visa o lucro. Nossa postura tem que ser de resistência”, enfatiza o ator Eduardo Moreira, do Galpão. Em Nós, um grupo de sete pessoas (cuja ligação não fica clara) prepara sua última refeição: uma sopa. Durante o processo, os indivíduos discutem questões relacionadas ao seu lugar na sociedade, o público e o privado, violências reais e simbólicas e celebra os 30 anos do grupo. A direção é de Márcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro (PR).

Para o Latão, voltar ao festival também tem um significado singular, porque o evento se confunde com a própria trajetória do grupo. “Participar das primeiras edições do FRTN foi importante para nós. A encenação de Ensaio para Danton no Teatro do Parque, em 1998, mostrou que nosso trabalho, ainda em seu começo, tinha uma linha estética que poderia interessar a muita gente. Tanto que a mais importante de nossas peças dos primeiros anos, O nome do sujeito, se passava no Recife, contando histórias de violência em torno de um barão do império que teria feito um pacto com o diabo: era uma alegoria da modernização regressiva, uma espécie de pré-história do que se vê em alguns dos filmes de nosso melhor cineasta atual, Kleber Mendonça Filho”, reforça Sérgio de Carvalho, fundador do coletivo.

O caráter de crítica social está presente também em Memórias de um cão, do Coletivo Alfenim (PB), inspirado na obra de Machado de Assis, que abre o festival e expõe as contradições do ethos brasileiro na questão da luta de classes. Outra aposta da curadoria é o Teatro Popular de Ilhéus (BA), cujo trabalho tem forte ligação com a cultura popular nordestina. A ideia é também fortalecer os laços entre os grupos da região.

PRATA DA CASA
Como mais uma característica do festival, as produções locais que foram destaque durante o ano, na visão da curadoria, estarão presentes no evento. Entre elas, dois espetáculos que põem sexualidade e gênero no centro do debate: Puro lixo, dirigida por Antonio Cadengue e inspirada na trajetória do Grupo Vivencial, e Ossos, do Coletivo Angu, baseada na obra de Marcelino Freire. Além de obras que já ganharam os palcos da cidade, o festival promove ainda a estreia de Severinos, Virgulinos e Vitalinos, dirigido por Samuel Santos.

Este ano, o festival presta homenagem ao grupo Mamulengo Só-Riso, fundado em Olinda, em 1975, por Fernando Augusto Gonçalves Santos, Nilson de Moura e Luiz Maurício Carvalheira, cujo trabalho na pesquisa e divulgação da arte do bonequeiro nordestino representou um marco na cultura pernambucana e nacional. “É um grupo fundamental para a preservação e renovação da arte do mamulengo, que é patrimônio imaterial, mas que, hoje, passa por uma situação difícil, com poucos artistas se dedicando à sua pesquisa e, principalmente, à sua execução. O teatro de bonecos é vibrante e precisa ter seu espaço destacado”, reforça Romildo.

Confira programação do festival:

 

Sábado, 19/11
Memórias de um Cão – Coletivo Alfenim – PB
Teatro de Santa Isabel
Às 20h
Duração: 1h20 – indicado para maiores de 14 anos

Domingo, 20/11
Severinos, Virgulinos e Vitalinos – Dispersos Cia. de Teatro – PE
Teatro Apolo
Às 19h
Duração: 1h10 – Livre para todos os públicos

HARU - A primavera do Aprendiz – Rapha Santacruz Produções – PE
Teatro Barreto Júnior
Às 16h30
Duração: 60 min – Livre para todos os públicos

Ossos – Coletivo Angu de Teatro - PE
Às 19h
Teatro Hermilo Borba Filho
Duração: 1h20 – Indicado para maiores de 14 anos

Segunda, 21/11
Severinos, Virgulinos e Vitalinos – Dispersos Cia. de Teatro – PE
Teatro Apolo
Às 19h
Duração: 1h10 – Livre para todos os públicos

MEDEIAPonto – Grupo Pharcas Sertanejas – PE
Teatro Hermilo Borba Filho
Às 19h
Duração: 1h10 – Indicado para maiores de 14 anos

Terça, 22/11
O Mascate, a Pé rapada e os Forasteiros – Cia. de Artes Cínicas com Objetos – PE
Teatro Apolo
Às 19h
Duração: 60 min – Indicado para maiores de 14 anos

H(EU)stória – O tempo em transe – Júnior Aguiar – PE
Teatro Barreto Jr.
Às 20h
Duração: 1h30 – Indicado para maiores de 14 anos

Quarta, 23/11
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho
Às 19h
Duração: 2h50, com intervalo – Indicado para maiores de 16 anos

NÓS – Grupo Galpão – MG
Teatro Luiz Mendonça
Às 20h30
Duração:1h30 – Indicado para maiores de 14 anos

Quinta, 24/11
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho
Às 19h
Duração: 2h50, com intervalo – Indicado para maiores de 16 anos

Saudosear – A noite insone de um Palhaço - Walmir Chagas – PE
Teatro Apolo
19h
Duração: 1h10 – Indicado para maiores de 14 anos

NÓS – Grupo Galpão – MG
Teatro Luiz Mendonça
Às 20h30
Duração:1h30 – Indicado para maiores de 14 anos

Sexta, 25/11
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho
Às 19h
Duração: 2h50, com intervalo – Indicado para maiores de 16 anos

Dois idiotas sentados cada qual em seu barril – Borbolina Produções – SP
Teatro Barreto Jr
Às 20h
Duração: 50 min - Indicado para todos os públicos

Sábado, 26/11
O menino e a cerejeira – Borbolina Produções – SP
Teatro Barreto Jr.
Às 16h
Duração: 60 min - Livre para todos os públicos

O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho
Às 19h
Duração: 2h50, com intervalo – Indicado para maiores de 16 anos

Medida por medida – Teatro Popular de Ilhéus – BA
Teatro Luiz Mendonça
Às 20h30
Duração: 1h30h - Indicado para maiores de 12 anos

Domingo, 27/11
Vento forte para água e sabão – Cia Fiandeiros de Teatro – PE
Teatro de Santa Isabel
Às 16h
Duração: 50 min - Livre para todos os públicos

Sebastiana e Severina – Kamio Kaze - PE
Teatro Barreto Junior
Às 16h30
Duração 1h10 - Indicado para todos os públicos

Fishman- Grupo Bagaceira – CE
Teatro Apolo
Às 19h
Duração: 1h10 - Indicado para maiores de 14 anos

O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho
Às 19h
Duração: 2h50, com intervalo – Indicado para maiores de 16 anos

Teodorico Majestade – Teatro Popular de Ilhéus - BA
Teatro Luiz Mendonça
20h30
Duração:1h30 - Indicado para todos os públicos

Programação extra

Dia 20/11– Exposição Mamulengo Só-Riso
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Abertura: às 10h
Entrada franca

Dia 22/11
Leitura Dramatizada
Medéia – O Evangelho - Albemar Araújo
Adaptação da obra de Eurípides
Teatro Joaquim Cardozo. Às 20h
Livre para todos os públicos. Entrada Franca.

Dia 23/11
Conta Causos – Doutores da Alegria – PE.
Teatro Joaquim Cardozo. Às 20h
Livre para todos os públicos. Entrada Franca.

Dia 26/11
Lançamentos: Livros, revista e o projeto: Teatro tem programa!
Com: Paulo Vieira, Pedro Vilela e Leidson Ferraz.
Centro Apolo Hermilo. Às 15h. Entrada Franca.

Programação formativa

De 16 a 19/11
Oficina/residência: O teatro épico-dialético
Ministrada por: Sérgio de Carvalho – SP
Local: Centro Apolo/Hermilo
Das 09 às 13h. Participação gratuita.

Dia 20/11
Seminário de Crítica Teatral – 2016.
Tema Geral: A arte secreta do teatro – encontros infinitos
Como se forma e se quebra tradição teatral: Mestres e discípulos do teatro russo.
Palestrante: Elena Vássina
Mediador: Diego Albuck
Local: Centro Apolo Hermilo

Dia 21/11
A arte solitária do autor – a criação dramatúrgica
Palestrantes: Paulo Vieira e João Denys
Mediador: Vinícius Vieira.

Dia 22/11
A arte secreta da crítica – o exemplo de Sábato Magaldi
Palestrantes: Bruno Siqueira, Astier Basílio e Ivana Moura.
Mediadora: Isabelle Barros.

Dia 26/11
Mesa de debates: Pesquisa de grupo / investimentos e resultados.
Palestrantes: Sérgio Carvalho; Luiz Reis e Rudimar Constâncio.
Mediador: Romildo Moreira
Centro Apolo/Hermilo
Às 9h30


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