Até o dia 18 de setembro, o litoral paulista torna-se a capital mundial do teatro ibero-americano, através do Mirada Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, evento bienal realizado pelo Sesc, que chega agora à sua quarta edição. Com a proposta de contemplar assuntos urgentes de nossa época, como família, gênero, racismo, identidade, cidadania, espaço público, ditadura, justiça, terrorismo e refugiados, o Mirada traz como grande singularidade o interesse curatorial pela produção oriunda de países da América Latina e da Península Ibérica.
O festival teve início na última quinta (8/9), mas é a partir desta semana que atracamos nosso navio em Santos, com a cobertura do festival pelo encenador e produtor cultural Pedro Vilela, que assina a matéria principal da capa deste mês, sobre a atual dramaturgia no país. Até o dia 18/9, o leitor do site da Continente poderá acompanhar um pouco de algumas das mais importantes ações realizadas pelo festival. Confira a cobertura AQUI.
Para além das apresentações, o público se depara, nestes dias, com um vasto número de atividades formativas, marcadas pela realização de conferências, laboratórios de criação, mesas de debate, leituras, compartilhamento de processos criativos, oficinas e workshops. Ao longo dos 11 dias de programação, é possível conferir parte do que vem sendo produzido em mais de 10 nacionalidades, entre elas Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Peru e Uruguai. São esperados com ansiedade os argentinos do Timbre 4, por exemplo, que, nos últimos anos, andam a circular nos principais festivais de teatro do mundo e finalmente aportam no Brasil com sua mais recente criação – Dínamo.
Em comunhão com nossos hermanos, o evento aposta na presença de 15 trabalhos brasileiros convidados, entre eles o celebrado Caranguejo overdrive, da carioca Aquela Cia. de Teatro, com sonoridade inspirada na estética do movimento manguebeat. Também será possível acompanhar a estreia d'A Comédia Latino-Americana, segunda parte do díptico idealizado e dirigido por Felipe Hirsch junto ao coletivo Ultralíricos (SP-RJ). De Pernambuco, estaremos representados pelo Grupo Magiluth, com sua mais recente peça, O ano em que sonhamos perigosamente.
Entretanto, os grandes destaques da mostra devem vir da Espanha, país escolhido para ser o homenageado desta edição, onde aporta com oito montagens. Uma das obras mais esperadas é assinada pela catalã Angélica Liddell, ¿Qué haré yo con esta espada?, cuja estreia mundial recente ocorreu em julho no Festival de Avignon, na França. Alguns nomes conhecidos do público pernambucano retornam ao país, como o diretor Roger Bernat e o coletivo Agrupación Señor Serrano, que marcaram presença na última edição do festival Janeiro de Grandes Espetáculos, no Recife. O primeiro apresenta o mesmo trabalho que aqui esteve, seu teatro-tribunal Please, continue (Hamlet), e o segundo, dois espetáculos: Brickman Brando Bubble Boom – BBBB e Birdie.
Outro nome de impacto no evento é o do argentino radicado na Espanha Rodrigo García e seu coletivo La Carnicería. García esteve pela última vez no país 2014, com o celebrado Gólgota picnic, e retorna para criticar o triunfo do consumismo nas sociedades, através do espetáculo 4.
Ampliando a noção de espacialidades possíveis no teatro contemporâneo, a Compañía Kamchàtka, com Fugit, propõe um percurso itinerante por ruínas, terrenos abertos e ambientes fechados para questionar a situação dos refugiados pelo mundo. Esta amplitude, inclusive, é uma das marcas desta edição que, para além dos espaços do Sesc Santos, utilizará edifícios históricos de relevância cultural e espaços não convencionais da cidade, como a sala Princesa Isabel, no Palácio José Bonifácio e a Fortaleza da Barra, fortificação construída em 1584.
A programação completa pode ser visualizada no site: http://mirada.sescsp.org.br/